Reino Unido Deporta Mais de 600 Brasileiros Em Voos Secretos

Entre agosto e setembro de 2024, mais de 600 brasileiros, incluindo 109 crianças, foram deportados do Reino Unido em voos organizados pelo governo britânico. Esse número é considerado recorde, sendo a maior quantidade de deportações de uma mesma nacionalidade realizadas em voos desse tipo. 

A informação foi publicada pelo jornal britânico The Guardian, gerando ampla repercussão e preocupações de organizações que defendem os direitos dos imigrantes.

Os voos ocorreram em um período de menos de 2 meses:

  • 9 de agosto: 205 pessoas deportadas, sendo 43 crianças.
  • 23 de agosto: 206 pessoas deportadas, incluindo 30 crianças.
  • 27 de setembro: 218 pessoas deportadas, 36 delas crianças.

Todas as crianças faziam parte de unidades familiares e, em muitos casos, estavam matriculadas em escolas do Reino Unido, com algumas tendo passado toda a vida no país.

O governo britânico alegou que as deportações foram voluntárias e focaram em pessoas que excederam o prazo permitido de permanência de seus vistos. Para incentivar a saída, o Ministério do Interior ofereceu pagamentos de até 3.000 libras (aproximadamente R$ 22 mil) para quem aceitasse a deportação de forma voluntária.

A saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), cuja regulamentação entrou em vigor em 2021, gerou uma série de mudanças nas regras de imigração. Muitos brasileiros que migraram por meio de países da União Europeia se viram desprotegidos, já que o direito automático de residência deixou de ser válido.

Organizações como a Coalition of Latin Americans in the UK destacaram que brasileiros enfrentam barreiras significativas no acesso a informações confiáveis e aconselhamento jurídico em português. Segundo a entidade, a desinformação e os rígidos critérios de elegibilidade deixaram centenas de famílias em situação vulnerável.

A Nova Política Migratória

O governo britânico endureceu as políticas migratórias, com o objetivo de reduzir a dependência de acomodações temporárias para imigrantes. Um porta-voz do Ministério do Interior afirmou que essas medidas economizarão cerca de 4 bilhões de libras nos próximos dois anos.

Além disso, o Reino Unido aprovou, em 2024, uma polêmica lei que permite deportar imigrantes para Ruanda, independentemente de sua nacionalidade. A medida, defendida pelo governo de Rishi Sunak, enfrenta resistência de entidades internacionais e do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que suspendeu o primeiro voo com destino a Ruanda em junho.

Preocupações Humanitárias

Organizações de direitos humanos expressaram alarme, especialmente pelo alto número de crianças envolvidas. Muitas delas estavam adaptadas ao sistema educacional britânico e foram repentinamente separadas de suas rotinas. As deportações, embora classificadas como voluntárias, levantam questões éticas sobre a capacidade de escolha em contextos de vulnerabilidade, desinformação e pressão econômica.

Essa situação expõe os desafios enfrentados por imigrantes brasileiros e de outras nacionalidades no Reino Unido, evidenciando as consequências das mudanças nas políticas migratórias pós-Brexit e a importância de maior suporte jurídico e social para comunidades vulneráveis.

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